Uma Anatomia do Livro de Arquitectura
Recensão crítica
Por Inês Moreira
André Tavares, Uma Anatomia do Livro de Arquitectura
Dafne Editora e Canadian Centre for Architecture, 2015
Capa dura, 17 x 24,5cm, 400 pág., Português, €35
ISBN 978-989-8217-35-6
Versão inglesa disponível pela editora Lars Müller Publishers
Uma Anatomia do Livro de Arquitectura é uma nova publicação de André Tavares que traz uma leitura aprofundada ao pensamento, práticas e labores por trás da publicação de livros de arquitectura, desde o período que antecede a invenção da prensa industrial e o efeito massivo da invenção de Johannes Gutenberg, à abordagem moderna à edição na área de arquitectura. Abordar o nascimento e vida da tradição disciplinar da produção de livros de arquitectura é obrigatoriamente um trabalho de arquivo lento e longo. No entanto, pode igualmente ser uma empreitada inventiva, tendo os seus fundamentos sido definidos antes da escrita deste novo volume em forma de tratado.
Tavares é um arquitecto português que se dedica à história da arquitectura, sendo atualmente o curador da Trienal de Arquitectura de Lisboa 2016, juntamente com Diogo Seixas Lopes, a mesma equipa que dirigiu o Jornal Arquitectos entre 2013 e 2015. Integra também várias colaborações académicas e, ao mesmo tempo, dirige a sua própria editora, a Dafne. Na era dos e-books, publicações digitais e print-on-demand, Tavares continua a imprimir livros meticulosamente editados sobre a história e a teoria da arquitectura, maioritariamente em português, resistindo às pressões de um mercado mais alargado e dos formatos digitais. A materialidade de um livro, o seu formato, técnicas e até textura são veículos diacrónicos de diferentes épocas, estabelecendo também um diálogo sincrónico na prateleira, na mesa ou na biblioteca. É, por isso, um livro a cores, impresso em dois volumes: azul para inglês, vermelho para português. Uma publicação digital trairia o argumento central do seu próprio enunciado.
O livro examina “os cruzamentos entre a cultura dos livros e a cultura dos edifícios” e os seus processos de alimentação recíproca. Como é que a disseminação da publicação impactou a disseminação do conhecimento e das ideias sobre arquitectura? Como é que as novas tecnologias de impressão permitiram uma composição visual complexa de edifícios arquitectónicos (imagens, cores, pormenores)? A correlação entre composição arquitectónica, pensamento espacial e produção de livros é largamente explorada no seu interior, interligando factos necessários, tais como marcos tecnológicos e o impacto da sua proliferação, com a imaginação técnica/artística empregue no processo de produção de livros de arquitectura.
O livro está estruturado em duas partes, a primeira tomando duas figurações — um edifício e um livro — em torno do Palácio de Cristal de Londres e a representação impressa e fotográfica das suas duas instanciações (1851-54) e em torno de Befreites Wohnen sobre construção performativa de Sigfried Giedion. Uma segunda parte segue rigorosamente cinco capítulos — textura, superfície, ritmo, estrutura, escala — e disseca metodologicamente a anatomia do livro de arquitectura, evitando uma abordagem metafórica a referentes arquitectónicos anatómicos. Incluída está a reprodução de um extenso número de gravuras do arquivo do Centro Canadiano de Arquitectura. Os dois volumes (gémeos) são uma contribuição portuguesa rara para uma discussão disciplinar internacional mais ampla. Com acabamento em formato tijolo, tanto em forma como em peso, o livro é indispensável a qualquer biblioteca de arquitectura (e design). ◊