Arquitectura Re(a)presentada no trabalho de FG+SG
Por Fabrícia Valente
Falar de representação em Arquitectura pode conduzir-nos à leitura dos modelos institucionalizados que periodicamente expõem e debatem os diferentes contextos da disciplina, como são exemplo as grandes bienais internacionais, que dão lugar a espaços expositivos que também lançam a questão de como representar Arquitectura. Não havendo a possibilidade de ler a Arquitectura através da vivência dos espaços construídos é, de facto, a partir de documentos que conhecemos as suas obras. Assim, representação pode também remeter-nos às diferentes linguagens que ao longo do tempo serviram como suporte para apresentar a Arquitectura, como o desenho, a maqueta, a fotografia e o vídeo. Parece-me oportuno falar da plataforma criada por Fernando Guerra e Sérgio Guerra, um trabalho de diálogo entre a arquitectura e a fotografia, situando-a em ambas as leituras aqui apresentadas desta temática.
As fotografias de Arquitectura de Fernando Guerra são talvez o maior veículo actual de apresentação da Arquitectura Portuguesa em todo o mundo. Como grande embaixador da nossa Arquitectura temos a grande referência de Álvaro Siza Vieira, mas as imagens deste fotógrafo são o suporte gráfico que a re(a)presenta, através do trabalho deste arquitecto e de tantos outros de diferentes gerações. Por trás da lente está o olhar de quem vive na obsessão de apresentar em imagens as inúmeras possibilidades dos espaços edificados. Reportagens de dias que revelam os edifícios a partir dos seus muitos ângulos, de certeiros estudos dos fluxos das suas vivências, de tempos e luzes para os quais é de facto preciso saber olhar mas também saber esperar. Contrariando a ideia de que uma selecção de meia dúzia de fotografias consegue sintetizar um projecto, estes trabalhos são narrativas cinematográficas onde conseguimos viajar pelos edifícios e conhecer as pessoas que neles habitam, as diferentes exposições solares a que estão sujeitos, os pormenores construtivos que tenderíamos a pensar que só os desenhos nos revelariam. Esta postura no acto de fotografar Arquitectura, mais do que um modo de estar e representar tornou-se uma marca na comunicação e divulgação da própria Arquitectura.
Hoje, não é o estúdio FG+SG que procura ateliers de Arquitectura para mostrar os seus trabalhos, mas são os irmãos Guerra que são contactados por inúmeros arquitectos portugueses e estrangeiros, encomendando-lhes uma reportagem fotográfica às suas obras. Sabe-se à partida que os projectos fotografados por Fernando Guerra são comunicados ao mundo e, desta forma, se é verdade que quase todos os grandes nomes da Arquitectura Portuguesa confiam os seus trabalhos a este fotógrafo, também o é que os mais novos anseiam por estas imagens para conseguirem que os seus trabalhos sejam divulgados em diferentes plataformas. As fotografias de Fernando Guerra são premiadas internacionalmente, (recentemente receberam as distinções Architizer Award winner in the Architecture + Photography category, 2016; Arcaid Images “Architectural Photographer of the year 2015” e Plataforma Arquitectura Photography Prize – project of the year 2015), são publicadas em revistas e livros de Arquitectura por todo o mundo mas são também apresentadas a todos a partir da plataforma online ultimasreportagens.com. Este site tornou-se como eles anunciavam: a mais completa biblioteca online de imagens da arquitectura contemporânea portuguesa. Dos nomes consagrados, aos que estão a dar os primeiros passos, são mostradas obras de Arquitectura ao detalhe. Do edifício mais aclamado ao centro comercial, o que se pretende neste espaço é divulgar os trabalhos no sentido de um dia a memória destes espaços estar o mais documentada possível, não colocando o fotógrafo no papel de crítico do que melhor ou pior se fez em Arquitectura, mas de quem soube registar diferentes momentos para que então, um dia, se possa fundamentar a crítica e a história. O ultimasreportagens.com, com mais de mil trabalhos em arquivo, ambiciona em breve alargar este número para o dobro e está na linha da frente na publicação dos novos projectos construídos, para todos e não apenas para a elite dos arquitectos. Esta plataforma de comunicação chega ao público em geral e é também o motor de busca para muitas outras plataformas de Arquitectura e periódicos em papel ou digitais que procuraram os trabalhos mais recentes. Se há dez anos era nesses periódicos que queríamos encontrar os novos projectos agora é quase garantido que os procuramos para encontrarmos uma perspectiva crítica às obras e aos nomes da disciplina e assumimos que Fernando Guerra está na vanguarda da divulgação através do site e até mesmo através da rede social instagram. São muitos os que seguem as suas viagens neste registo onde são mostrados em simultâneo imagens específicas de uma reportagem que está a ser feita no momento, com uma fotografia seleccionada de uma reportagem já publicada.
FG+SG assume este papel de mensageiro da arquitectura lidando com as questões da representação na fotografia no limbo entre o documento fidedigno do real, numa postura mais jornalística e o momento em que as imagens não se inibem em fazer de um edifício o cenário de representação mais artística. Nestas reportagens fotográficas há momentos captados da forma mais comum na fotografia de Arquitectura, com tripé e lentes que corrigem distorção mas há também a possibilidade de um olhar captado com o recurso a um drone ou a uma 35mm, tão pouco usada na Arquitectura. A fronteira entre obra e documento tem sido muito debatida nas artes plásticas e as fotografias de Fernando Guerra trazem este debate também à Arquitectura. Se muitas exposições e conferências de arquitectura se munem destas imagens como objectos de representação, elas são cada vez mais a génese de novas exposições e espaços de reflexão, como foi exemplo a recente exposição Álvaro Siza – desenhos ao jantar e como será uma grande exposição retrospectiva do trabalho de Fernando Guerra anunciada brevemente. Serão a representação da representação? ◊