09/2016

Reportagem de Resposta Rápida sobre a Trienal de Arquitectura de Oslo

Por Inês Moreira
“After Belonging defende que o fazer do lugar e a construção de um sentido de identidade constituem apenas as agendas mais típicas, entre outras, para as quais a arquitectura pode ser mobilizada. (…) Este projecto [a Trienal] pretende examinar criticamente como a arquitectura é articulada para fins específicos na transformação da pertença, e procura especular sobre trajectórias alternativas para a produção de arquitectura.”

Catálogo After Belonging, texto dos curadores, p. 15.

A Trienal de Arquitectura de Oslo (OAT) inaugurou no início de Setembro trazendo a Oslo uma comunidade internacionalmente mobilizada de profissionais, pensadores e académicos da arquitectura. Tendo vencido a open call curatorial, Luís Alexandre Casanovas Blanco, Ignacio G. Galán, Carlos Mínguez Carrasco, Alejandra Navarrete Llopis e Marina Otero Verzier reúnem na After Belonging Agency para analisar e expor o tema curatorial proposto: After Belonging – the objects, spaces and territories of the ways we stay in transit. (Depois da Pertença – os objectos, espaços e territórios dos modos como nos mantemos em trânsito). A proposta apresenta duas grandes exposições – On Residence e In Residence –, uma ambiciosa conferência internacional de abertura e um livro especialmente editado publicado pela Lars Müller Publishers, a par de uma academia de estudantes e outros eventos paralelos.

 

 

 

 

 

Como noutras grandes exposições internacionais, durante os dias de inauguração dezenas de convidados apresentaram e debateram o seu trabalho e investigação, tanto no referido programa oficial, como nos eventos paralelos. A resposta por parte do público e dos media apreendida no imediato é dupla: uma curiosidade muito positiva por parte dos interessados em diálogos multidimensionais em arquitectura como uma criação espacial híbrida humano/cultural e, por outro lado, um cepticismo duro por parte dos ainda estritamente interessados numa percepção mais objectual/autoral da arquitectura, entendida como uma disciplina de resolução de projecto. As reacções espelham um entendimento contrastante do que é a arquitectura nos dias de hoje e o que ela deveria estar a fazer. Os curadores afirmam claramente o seu objectivo de “especular sobre trajectórias alternativas para a produção arquitectónica”, aliado a pesquisas de campo e práticas cartográficas desenvolvidas por arquitectos que operam como investigadores e activistas por todo o mundo.

 

 

Oslo/Noruega

 

Oslo, e a Noruega, são um dos territórios mais ricos (e mais caros), onde a imigração e a população cresceram 30%. O país está a desenvolver novos investimentos em arquitectura, como se pode verificar pela quantidade de guindastes na linha do horizonte da cidade, com vários novos empreendimentos e edifícios públicos em construção. Oslo é um destino atraente para ver, projectar e igualmente construir arquitectura de alto nível, uma terra de oportunidades para profissionais – mas que divulga, no entanto, Snøhetta, acima de tudo. Muito diferente da exuberância de outras economias baseadas no petróleo, a Noruega está – através do programa Future Built , uma agência de três-quatro cidades, incluindo Oslo – a explorar novas abordagens à sustentabilidade ambiental e arquitectónica, desde a concepção/construção a toda a sua duração de vida, implementando e monitorizando novos concursos de arquitectura, nos quais a indústria é convocada a reduzir transportes, utilizar materiais ecológicos e reduzir o consumo de energia ao longo do ciclo de vida dos edifícios. Todos os anos, 50 novas escolas públicas são construídas/remodeladas, há novos projectos de habitação de renda baixa e edifícios públicos – a imprensa pôde visitar os locais dos principais edifícios em construção: o New National Museum, de Klaus Schuwerk, e o Munch Museum, de Juan Herreros, ambos na baía e próximos da New Opera House, da autoria de Snøhetta. Ao mesmo tempo, o país investe em ambiciosas instituições culturais que promovem a cultura arquitectónica e a experimentação espacial, nomeadamente, o DOGA (o Centro Norueguês de Design), a secção de Arquitectura do National Museum, a Trienal de Arquitectura de Oslo, que se assume como “uma Trienal orientada para o conhecimento”. Como o programa demonstra, há uma conversa multidimensional com a produção arquitectónica “convencional”, apoiando-a, ouvindo-a e interagindo com ela de modo efectivo.

 

 

Trienal de Arquitectura de Oslo

 

Para além da esperada e estrita arquitectura ambiciosamente global (e seus interesses), Oslo está, ao mesmo tempo, a promover a sua Trienal de Arquitectura como plataforma de crítica e análise cultural do construído e do fenómeno urbano no mundo globalizado. As afirmações críticas das edições de 2013 e 2016 da Trienal abordaram as preocupações ecológicas e sistémicas provocadas pelas assimetrias do mundo – a exploração de energia/petróleo, o aquecimento global e predação das matérias primas do globo são um denominador comum. As agendas e resultados das indústrias do imobiliário e da construção e a da crítica cultural não estão (obrigatoriamente) a coincidir, embora estabeleçam em Oslo um diálogo maduro: não só são patrocinadoras do programa cultural da Trienal grandes empresas do imobiliário e da arquitectura, como ambos apresentaram na conferência internacional os seus argumentos contrastantes.

Como política de práticas, as propostas/perspectivas antitéticas ecoaram na conferência: do empoderamento das comunidades contra o negócio da caridade, por Yasmeen Lari do Paquistão, a abrigos prefabricados para refugiados da Fundação IKEA; ou a presença do marketing do bairro Barcode, às intervenções de menor escala do atelier japonês Bow-Wow ou dos arquitectos noruegueses TYIN; do projecto no estrangeiro da Biblioteca de Alexandria de Snøhetta, à exposição de Michel Feher sobre criação de valor corporativo dentro da economia contemporânea. Posições e escalas caleidoscópicas reunidas em Oslo – global/local, gestor/activista, crítico/negocial, objectual/orientado para o conhecimento – com as suas muitas tensões.

 

 

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Vista da Exposição On Residence.
© Istvan Virag
Vista da Exposição On Residence.
© Istvan Virag
Vista da Exposição On Residence.
© Istvan Virag

 

 

Exposições/Peças

 

No coração da Trienal estão duas exposições que respondem de forma diferente à questão de “Pertença”: uma focando-se na investigação de autores de todo o mundo e a outra trazendo respostas específicas para locais específicos identificados pela After Belonging Agency.

On Residence (DogA) é um repositório labiríntico de processos em curso (espaciais, materiais, visuais) que explora acima de tudo, através de pesquisa de campo, dezenas de locais específicos no mundo global, distribuídos numa narrativa esquizofrénica: borders elsewhere (sobre territórios), furnishing after belonging (sobre objectos e culturas materiais), sheltering temporariness (habitação e políticas), technologies for a life in transit (redes e geografias), markets and the global home (economias globais de pertença). Após uma avassaladora primeira impressão do excessivo aparato cenográfico, as peças fragmentárias imploram por atenção – de instalações de mobiliário a vídeos, de testemunhos em registo sonoro a fotografias emolduradas.

 

 

 

Vista da Exposição In Residence
© Istvan Virag
Vista da Exposição In Residence
© Istvan Virag

 

 

A segunda exposição, In Residence, é uma resposta a lugares e problemáticas específicos em Oslo e no mundo, e desenvolve-se tanto “relatando” dimensões espaciais particulares de pertença presentes nos países citados (Risaralda/Colômbia, Nova Iorque, Lagos, Oslo, Kirkenes, Dubai, Prato/Itália, Estocolmo), como apresentando propostas, nalguns dos locais, de micro intervenções, por equipas distintas. A cenografia sinuosa permite uma forte experiência espacial, no entanto, os conteúdos curatoriais mantêm uma certa fragmentação. A legibilidade de In Residence é maior, talvez a quantidade menor de projectos e a clareza da encomenda a torne mais fácil ao público.

 

 

 

Kirkenes, na fronteira da Noruega com a Rússia, um dos locais seleccionados para o Open Call for Intervention Strategies
Kirkenes, na fronteira da Noruega com a Rússia, um dos locais seleccionados para o Open Call for Intervention Strategies
Conferência de Eyal Weizman
© Istvan Virag
Conferência de Eyal Weizman
© Istvan Virag
Nature, Labour, Land de Nabil Ahmed e Dámaso Randulfe
Nature, Labour, Land de Nabil Ahmed e Dámaso Randulfe

 

 

Como o projecto curatorial da OAT pela After Belonging Agency opera uma narrativa por camadas espacial/editorial, visual e textual, explorando tecnologias, técnicas e materiais requintados, exige um esforço substancial para compreender o todo e explorar o detalhe. Os seus autores são tendencialmente grandes colectivos e consórcios informais, tornando difícil recordar autores. Expõe, mapeia e sensibiliza para problemáticas (antagonistas) de pertença. Mesmo após algumas visitas, as exposições convidam a uma análise mais atenta da maior parte dos projectos apresentados, pois oferece uma condensação actual de corpos de trabalho muito maiores. Da visita imersiva surgem algumas linhas fortes: a escala macro, o globo e o Antropoceno, que podem ser observados no Museu do Petróleo, pela Territorial Agency, apresentada na conferência inaugural, marca o tom: por favor, mantenham o petróleo no solo, não recorram ao drilling. Com esta interpelação, tanto as preocupações de sustentabilidade como a economia de riqueza encontram uma imagem de oposição do sofrimento do globo (aquecimento, fogos, poluição). A escala macro da relação natureza/cultura, apresentada pela palestra multi-escala de Eyal Weizman/Forensic Architecture, revela como a desumanização da natureza está a permitir a exploração de matéria-prima, como na Indonésia, onde fogos florestais massivos parecem estar relacionados com a expansão de plantações de óleo de palma, ameaçando tanto animais (orangotango) como a atmosfera e o clima globais. O projecto Air Drifts [em colaboração com a NASA] apresenta imagens de movimentações atmosféricas e as implicações da disseminação de partículas produzidas pelo homem num novo ecossistema global. Do solo, a governação geopolítica da região do Ártico e a fronteira entre a Noruega e a Rússia, em Kirkenes, e a permeabilidade de ambos os territórios numa relação Trabalho-Natureza, trazida por Nabil Ahmed e Dámaso Randulfe, expõe como a necessidade radical de pertença reúne forças políticas antagónicas.

Questões relacionadas com a pertença ao contexto local, a problemática da migração e a construção de identidades são uma linha social presente em várias peças/relatos. Um mapa comparando a urbanidade, escala e inserção de mesquitas e lugares de culto devotos ao Islão ao longo de 1.400 anos pode ser visto em The City of Islam, por L.E.F.T. com Laurence Abu Hamdam, trazendo a arquitectura religiosa histórica para primeiro plano, num momento em que o Estado Islâmico está a demolir – e a afirmar – a arquitectura como um dos seus gestos políticos. Colocando a realidade nacional síria, e o ataque sobre ela, em destaque, o projecto muito discreto e subtil de Sigyl, The Monuments of Everyday: the revolution is a mirror, oferece um vislumbre reflectido de realidades fragmentadas que apenas percebemos a partir dos nossos contextos distantes. Desobediência civil (espacial) relacionada com lutas de pertença, tanto de propriedade como de nacionalidade, são expressivamente apresentadas em Welcome Hotel, pelo gabinete SIC, uma pesquisa sobre a prática de resistência a despejos em Madrid devido ao incumprimento de crédito, numa grande acumulação de casos pré e pós processos de despejo. E Movement as civil desobedience: mapping migration and solidarity on Lesvos Island, que revela a acção de campo de activistas na Grécia para apoiar o fluxo de refugiados legais e ilegais que fogem da guerra através da Turquia.

 

 

Movement as Civil Disobedience – Mapping Migration and Solidarity on Lesvos Island, de Nora Akawi, Nina V. Kolowratnik, Johannes Pointl e Eduardo Rega, 2016
© Istvan Virag
Movement as Civil Disobedience – Mapping Migration and Solidarity on Lesvos Island, de Nora Akawi, Nina V. Kolowratnik, Johannes Pointl e Eduardo Rega, 2016
© Istvan Virag

 

 

A dimensão económica do espaço e materialização arquitectónicos é exposta por HUSOS (Espanha/Colômbia) através das remessas enviadas para a Colômbia de emigrantes colombianos a trabalhar no estrangeiro para construírem a casa de sonho na terra natal, a onde regressar no lugar a que pertencem. O projecto Isle of Pleasures, de Ana Naomi de Sousa, Paulo Moreira e Petur Waldorff, relata as tensões entre migrantes económicos europeus em Angola, o seu luxo e os usos locais do resort que ocupam. Também reportando a habitação temporária e identidades ficcionais difusas, o documentário de Ila Beka e Louise Lemoine sobre o Airbnb em Copenhaga expõe como as expectativas de pertença são hoje em dia um sonho ficcional e uma manobra comercial.

 

 

 

Ila Bêka, Louise Lemoine, Selling Dreams, 2016.
© Istvan Virag
Ila Bêka, Louise Lemoine, Selling Dreams, 2016.
© Istvan Virag

 

 

Outra linha diz respeito a questões de vidas e bens em permanente fluxo, as políticas e tecnologias que os sustêm, e sobre a sua produção e cristalização. A referência ao mobiliário de baixa qualidade tipo IKEA a revestir espaços interiores globais com a sua cultura material low cost espelha o relato sobre edifícios para armazenagem individual em Nova Iorque, uma paisagem de acumulação temporária de posses por pessoas em trânsito.

A desconstrução de amostras de peças de qualidade retiradas em operações selvagens de edifícios desmantelados, proposta por ROTOR/ROTOR, ecoa a circulação de materiais de construção e mobiliário, o seu dispêndio e a possibilidade de repensar o fluxo e os ciclos sobre os quais a arquitectura opera. A Chinatown industrial de Prato, em Itália, é a demonstração mais paradoxal de pertença e identidade: armazéns e fábricas geridas e operadas por trabalhadores e empresas chineses em Itália, produzindo com a etiqueta Made in Italy.

 

 

Trienais

 

Relembrando os dias de inauguração da Bienal de Arquitectura de Veneza, em Maio passado, numa das reuniões paralelas de curadores profissionais abordou-se o que parecia ser questão de senso comum e resolvida: Bienais vs. Museus. Se as bienais são encontros culturais para debater e expor o seu próprio tempo, e os museus são repositórios históricos de trabalhos de autores, onde está o limite (ou porquê a confusão) do raio de acção de ambos, evento e instituição? Deveriam as bienais importar-se com o legado e a continuidade, ou, pelo contrário, deveriam continuar a reinventar os seus formatos, como fez por exemplo a Bienal de Bergen? Estas questões parecem gastas, mas estão no entanto implícitas nas respostas radicais que temos ouvido por estes dias, entusiasmo vs. cepticismo.

A abordagem programática desta Trienal é clara: não se compromete com a divulgação de autores de arquitectura nem objectos concluídos mas, em vez disso, experimenta e relata enigmas contemporâneos onde a arquitectura possa responder/espelhar questões de pertença, habitação e vivência num amplo ecossistema. A OAT parece estar comprometida não com o conhecimento e herança disciplinar, mas em providenciar as bases para testar e estender os limites do campo. E embora nem todos os visitantes estejam disponíveis para fazer parte dos seus discursos – uma vez que o jargão performativo, de linguagem ou social exigem uma certa ”literacia” (como qualquer área do conhecimento) – Oslo parece estar comprometida em continuar a dedicar o seu evento trianual a experimentar, pesquisar e expor as ansiedades do mundo. ◊

A ambiguidade da fotografia de arquitectura enquanto prática artística

Por Susana Ventura

A exposição Ficção e Fabricação: Fotografia de Arquitectura após a Revolução Digital, actualmente no MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, com a curadoria de Pedro Gadanho e Sérgio Fazenda Rodrigues, apresenta-nos, sobretudo, a compreensão de um conjunto de obras de fotógrafos e artistas visuais seminais (Jeff Wall, Thomas Demand, Andreas Gursky, Thomas Ruff, Wolfgang Tillmans, James Welling, entre outros) pelo olhar da arquitectura, que exerce, na exposição, um discurso unificador das diferenças entre obras,…

A Confiança perdida é difícil de recuperar

Por Nuno Coelho

O J—A convidou Nuno Coelho (www.nunocoelho.net) para nos falar da Saboaria e Perfumaria Confiança em Braga, do processo de compra do edifício da fábrica pelo município em 2011 e do destino, ainda incerto, da sua ocupação na actualidade. Nuno Coelho é Designer de Comunicação e tem dedicado parte da sua investigação à história desta Fábrica. É autor da tese de doutoramento “O Design de Embalagem em Portugal no Século XX – Do Funcional ao Simbólico – O Estudo de Caso da Saboaria e Perfumaria Confiança”…

Habitação Acessível: que estratégia adoptar partindo de outras experiências europeias

Por Ricardo Prata

A adopção de medidas na área da Habitação não reúne consensos nos diferentes quadrantes da sociedade, mesmo considerando-se o direito ao seu usufruto uma base de partida estabilizada com o advento dos regimes democráticos na Europa.

Ivrea e Olivetti

Por João Rocha*

Quando Le Corbusier visitou a cidade de Ivrea em Itália pela segunda vez, em 1936, comentou que a avenida Guglielmo Jervis, via estruturante da cidade, era la strada più bella del mondo. O plano Director da autoria dos arquitectos Luigi Fini e Gino Pollini, acabara de ser publicado na revista Casabella, e Le Corbusier em contacto com Adriano Olivetti, não deixou de expressar o arrojo e visão do desenho e da arquitectura propostas para a nova cidade industrial Olivetti.

Eco-visionários

Por Paula Melâneo

Após Utopia/Distopia, o MAAT propõe uma segunda exposição-manifesto, Eco-Visionários: Arte, Arquitetura após o Antropoceno, para ver até 8 de Outubro.

Este projecto convoca mais de 35 autores de diferentes áreas, artistas e arquitectos a contribuir para a reflexão sobre o Antropoceno — expressão popularizada neste século para definir a possibilidade de uma nova época geológica, marcada pela acção humana no ambiente natural terrestre —, na contemporaneidade e no que se seguirá.

Contributo para a discussão pública do PNPOT

Por Tomás Reis

Na Discussão Pública do Programa Nacional de Políticas de Ordenamento do Território (PNPOT), procurei dar o meu contributo. Este programa, além de definir as principais linhas orientadoras do Ordenamento do Território em Portugal durante a próxima década, vai certamente influenciar o Plano Nacional de Investimentos e o próximo Quadro Comunitário de Apoio, Portugal 2030.

Mulheres arquitectas e arquitectura: e se trocássemos umas ideias sobre o assunto?

Por Patrícia Santos Pedrosa

Durante sete meses, de Setembro 2017 a Março 2018, a associação Mulheres na Arquitectura (MA), em conjunto com a Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos, organizou o que esperamos que seja o primeiro ciclo, de vários, das Conversas Arquitectas: Modo(s) de (R)exitir. Como era afirmado no texto de apresentação, apesar de as mulheres, em 2017, representarem cerca de 44% de inscrições na Ordem dos Arquitectos não surgem, tanto para o público em geral como entre pares, com uma visibilidade equivalente. O objectivo primeiro do ciclo de…

Sobre Nadir.

Por João Cepeda

À margem do Tâmega plantado, um corpo branco estende-se à beira-rio, na cidade (outrora) romana de Chaves.

Ao longe, um volume de um único piso, em betão branco aparente, repousa subtilmente sobre um conjunto de lâminas que o erguem do chão, refugiando-se das águas que, de quando em vez, ousam inundar a zona ribeirinha.

Somos encaminhados por uma ligeira rampa em granito, à cota alta.

O percurso – que estabelece a transição entre o centro histórico e as margens do rio, enaltecendo-o – faz-se (quase) sempre de olhos postos…

Sobre “o Público”* no Espaço

Por Wim Cuyvers

Pretendemos, continuamente, justapor o espaço público ao espaço privado numa oposição simples: queremos afirmar que o espaço público é o oposto do espaço privado e, de forma decisiva, formular uma definição de espaço público, por um lado, e de espaço privado, por outro. Mas tanto o espaço público puro como o espaço privado puro não existem; não podemos sequer esperar poder imaginar, inventar ou projectar espaço privado ou público puros. O espaço público puro (e, de facto, o espaço…

O Devir-Forma da Matéria

Por Susana Ventura

O livro Architectonica Percepta: Texts and Images 1989-2015, de Paulo Providência com fotografias de Alberto Plácido, foi publicado no final do ano de 2016 pela Park Books, uma editora Suíça dedicada a livros de arquitectura e áreas que lhe são próximas. Providência é arquitecto e Professor de arquitectura na Universidade de Coimbra, cuja obra está profundamente enraizada numa investigação persistente que ultrapassa a rígida nomenclatura da disciplina de arquitectura, procurando incorporar uma reflexão introspectiva a partir…

Street Art, Sweet Art.*

Por Pedro Bandeira

Há dois teóricos que reivindicam para si o mérito da atenção dedicada à relação entre a criatividade e a cidade — o primeiro é Charles Landry, o segundo é Richard Florida. Landry reclama ser o inventor do conceito Creative City uma epifania que teve no final da década de 80 e que, segundo o próprio, concentra-se “no modo como as cidades podem criar condições que permitam às pessoas e às organizações pensar, planear e agir com imaginação resolvendo problemas e desenvolvendo oportunidades”.…

A panificadora de Nadir Afonso

Por Catarina Ribeiro e Vitório Leite

“Aos olhos de um indivíduo, de uma família, ou até de uma dinastia, uma cidade, uma rua, uma casa, parecem inalteráveis, inacessíveis ao tempo, aos acidentes da vida humana, a tal ponto que se julga poder contrapor e opor a fragilidade da nossa condição à invulnerabilidade da pedra.”

Media, metodologia e arquitectura: MEDIATÉKHTON

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Os media refletem hoje uma dinâmica indiscutível em muitos campos das competências e das relações humanas, abrangendo aspectos sociais, económicos, culturais e mesmo espirituais, tornando-se assim “extensões” do próprio ser humano (McLuhan, 2008). A Arquitectura revela uma identidade e um pensamento na sua postura formal e temporal face à realidade; esteve desde sempre associada a um paralelismo entre estrutura e conceptualização, estética e extra estética, funcionalismo e ornamento. No entanto,…

Sobre o ensino da Arquitectura e o futuro profissional do Arquitecto

Por José Nuno Beirão

Num tempo em que cerca de quatro em cada mil habitantes em Portugal são arquitectos, para que serve um curso de Arquitectura?

Quais são os outputs profissionais possíveis (e alternativos às saídas convencionais) que o ensino da Arquitectura poderá promover?

Neste artigo argumenta-se que a formação do Arquitecto não serve essencialmente para a tradicional produção da Arquitectura, mas que possui a essência da formação necessária às profissões do futuro (aquelas…

Media & Arquitetura

Por Nelson Augusto

Acentuando a análise numa relação distópica, invoquemos os extremos para uma clara compreensão. A divulgação controlada da obra de Luis Barragán revela a importância desse compromisso. Arquitecto reconhecido pelo seu silêncio eclético tomou a decisão de controlar os moldes em que a projecção da sua obra deveria ser realizada. A delicadeza desta inquietação gerou um enorme interesse, muitas vezes fantasiado, tanto em torno do autor como da sua obra. Num outro espectro, Zaha Hadid encontrou…

Que vai ser de nós?

Por Rui Campos Matos

A grande novidade do incêndio que, este Verão, atingiu a Madeira, não foram os danos causados (em 2012 a devastação também foi grande) mas sim o facto de as chamas terem ameaçado o antigo Funchal de intramuros. Por algumas horas a baixa da cidade viu-se envolvida numa massa irrespirável de fumo que semeou o pânico entre a população.

De La Ville à la Villa – Chandigarh Revisited

Por Marta Jecu

As pessoas podem sentar-se de uma forma bela também numa pedra...

Pó, condições climáticas, silêncio e som, ferrugem e ar são para Jonathan Hill ausências de matéria percepcionadas que, no entanto, se constituem fisicamente como arquitectura. No seu fascinante livro Immaterial Architecture representa este modelo de uma arquitectura que nasce do imaterial, contra a casa modernista que considera consistente, autónoma, sem desperdício. Transparência e luz, que personificam o modernismo, são para Hill uma camuflagem…

Uma Anatomia do Livro de Arquitectura

Por Inês Moreira

Uma Anatomia do Livro de Arquitectura é uma nova publicação de André Tavares que traz uma leitura aprofundada ao pensamento, práticas e labores por trás da publicação de livros de arquitectura, desde o período que antecede a invenção da prensa industrial e o efeito massivo da invenção de Johannes Gutenberg, à abordagem moderna à edição na área de arquitectura. Abordar o nascimento e vida da tradição disciplinar da produção de livros de arquitectura é obrigatoriamente…

XXL

Por Pedro Bandeira

Em 2004 fui convidado por Pedro Gadanho e Luís Tavares Pereira a participar na exposição Metaflux: duas gerações na arquitectura portuguesa recente – a representação oficial portuguesa na Bienal de Veneza. Confortavelmente à margem da “geração X” ou “geração Y”, integrei o grupo de artistas e arquitectos (Augusto Alves da Silva, Didier Fiuza Faustino, Nuno Cera + Diogo Seixas Lopes e Rui Toscano), concebendo uma instalação específica para o evento – o “Projecto Romântico”.

Reporting from the Eastern borders

Por Inês Moreira

Respondendo ao tema geral da Bienal de Veneza de Arquitectura – Reporting from the Front – um conjunto interessante de pavilhões de países do (novo) Leste Europeu explora, radicalmente, questões específicas das suas nacionalidades, arquitectura e território dando-lhes visibilidade e, talvez, resolução internacional, enquanto arriscam um novo entendimento e abordagem ao potencial de participação de pequenos países no gigante evento internacional que é Veneza.

Os Vizinhos

Por Alexandra Areia

A Europa – e os tremendos desafios que hoje enfrenta – é um tema que, mesmo indirectamente, está sempre subjacente a Neighbourhood: Where Alvaro meets Aldo, a representação oficial portuguesa na Bienal de Arquitectura de Veneza 2016, comissariada por Nuno Grande e Roberto Cresmacoli. A questão da Europa torna-se particularmente evidente em “Vizinhos”, a série de filmes documentais que acompanha a representação, realizada pela jornalista Cândida Pinto...

Arquitectura Re(a)presentada no trabalho de FG+SG

Por Fabrícia Valente

Falar de representação em Arquitectura pode conduzir-nos à leitura dos modelos institucionalizados que periodicamente expõem e debatem os diferentes contextos da disciplina, como são exemplo as grandes bienais internacionais, que dão lugar a espaços expositivos que também lançam a questão de como representar Arquitectura. Não havendo a possibilidade de ler a Arquitectura através da vivência dos espaços construídos é, de facto, a partir de documentos que conhecemos as suas obras.

Arquivo. Arquitectura. Território.

Por Lucinda Fonseca Correia

Decorreram simultaneamente, em Lisboa, as exposições Arquitectura em Concurso: percurso crítico pela Modernidade portuguesa e Inquéritos ao Território: Paisagem e Povoamento. A primeira exposição lança uma grelha de análise diacrónica dos concursos do último século em Portugal, visível na evolução das temáticas propostas: representação, instituição, espaço público, cultura, património, paisagem, lazer,…

Redacção de Crónicas para o J—A

Crónicas é o espaço em que o J—A publica breves opiniões e reflexões críticas sobre temas actuais relacionados com a arquitectura a sua relação alargada com a sociedade. Seleccionaremos contributos entre as 500/800 palavras que podem ser ilustrados. Se pretender contribuir para esta secção, envie-nos uma breve proposta do tema a abordar para ja@ordemdosarquitectos.pt