EDITORIAL
Quatro lustros na Ordem dos Arquitectos: feitos e reflexos
No ano em que se completam 70 anos após o primeiro Congresso dos Arquitectos, realizado em 1948, celebraram-se também os 20 anos passados da transição da Associação dos Arquitectos Portugueses para a actual Ordem dos Arquitectos, a organização profissional que regula o exercício da Arquitectura em Portugal. O Conselho Editorial do J—A propôs editar o presente número a propósito desse aniversário — trata-se do órgão que acompanha tanto os temas propostos, como outros assuntos menos relacionados com a edição e igualmente complexos, que neste presente triénio foram diversos.
Concebido e editado com a necessária autonomia crítica, reconhecemos aqui a convergência aparentemente estranha entre um órgão de observação crítica, o J—A, e a própria entidade oficial que regula a profissão, a OA. Importa desambiguar a sobreposição, pelo que decidimos convidar vozes envolvidas nos feitos e destinos destas duas primeiras décadas da OA, dando também espaço a movimentos e a subjectividades críticas que se contrapõem às políticas e prioridades que têm guiado estes 20 anos.
Ao longo destas oitenta páginas reúnem-se os testemunhos de elementos das diferentes direcções — Helena Roseta, João Belo Rodeia, João Santa-Rita e José Manuel Pedreirinho — e de um dos mentores da transição para Ordem, Pedro Brandão. Convidam-se os contributos reflexivos de arquitectos activamente envolvidos na história recente da Ordem e com os seus órgãos sociais — João Paulo Rapagão, Leonor Cintra Gomes e Miguel Judas. A par, publicam-se novos ensaios que focam importantes áreas de trabalho da OA, sobre deontologia e política na profissão, de Lucinda Correia; sobre a cultura arquitectónica e a divulgação cultural na OA, por Michel Toussaint; e um ensaio de Filipe Mónica, que trata a criação dos serviços de concursos de arquitectura apoiados pela Ordem. Neste conjunto publicamos uma investigação de Vítor Alves sobre o historial do J—A entre 1981-2015, que fica complementado por um breve apontamento nosso sobre o decorrer do actual triénio.
Convidámos ainda Patrícia Santos Pedrosa (Associação Mulheres na Arquitectura), a par de Miguel Costa e de Nuno André Patrício (Plataforma Maldita Arquitectura), que nos relatam diferentes preocupações que cruzam subjectividades e posicionamentos no exercício da profissão dos arquitectos com aqueles da sua representação e entendimento pela OA. E porque a OA tem de reflectir uma continuidade no seu trabalho face ao crescimento constante do número de arquitectos — no final de 1998, o número de arquitectos inscritos na OA era de 7 800; em Dezembro 2018, são 25 670, entre os quais se contabilizam 14 074 inscritos activos —, incluindo as diferentes gerações que representa, fomos conhecer um dos mais jovens arquitectos inscritos na OA, Pedro Augusto Frade, que nos revela as suas expectativas sobre a profissão e o projecto de fim de curso, com que venceu o Prémio Archiprix 2017.
Como sempre, as opiniões e factos redigidos nos artigos são da responsabilidade dos autores, que se desejam plurais e problematizantes. Importa ainda referir que o projecto editorial do J—A propõe uma reflexão crítica e de actualidade sobre questões da Arquitectura, pelo que não pode ser exaustivo nem substituir a necessária pesquisa histórica que venha de futuro a sistematizar o historial institucional da Ordem dos Arquitectos.
O próximo número do J-A, o último desta série, será sobre o Futuro. ◊