TESTEMUNHOS

Seleccionar
os seleccionadores

Margarida Veiga
João Santa-Rita
Carlos Moura-Carvalho
Jorge Barreto Xavier
José Mateus
Ana Paula Laborinho


 

Margarida Veiga

Ex–Directora Geral das Artes
Ex–Vice Presidente do Instituto das Artes
Arquitecta
Qual deve ser, na actualidade, o papel de uma representação nacional num evento internacional de arquitectura?
Uma representação nacional de arquitectura num evento internacional deve ter em conta várias questões que me parecem de grande pertinência e que em muitos momentos não são equacionadas:
— Ter em consideração o tema geral definido pelo comissário geral do evento internacional e procurar difundir junto da comunidade artística/arquitectónica nacional o tema/s escolhido/s;
— Proceder a uma ampla divulgação do/s conceito/s definidos e abrir um período de candidaturas a projectos de curadores, arquitectos ou artistas que apresentem propostas que se insiram no tema proposto.
— O papel de uma representação nacional deve ter em conta, para além do tema, a importância do papel agregador do arquitecto no que respeita à relação entre a arquitectura e a cidade e todas as questões que se encontram na ordem do dia tais como sustentabilidade, as questões ambientais, as novas tecnologias, a economia da cidade, a relação do ser humano com a sua envolvente, etc...
— Deste evento internacional deve constar um "forum internacional" que analise o significado da arquitectura na sociedade contemporânea, projectos de arquitectura e projectos experimentais que ajudem especialistas e público a uma aproximação entre eles e aos temas em presença.
 
 

Que critérios devem ser tidos em conta na selecção dos comissários e curadores das representações nacionais? Qual deve ser o papel de uma instituição no processo de validação do projecto e dos autores representados?

Conforme acima referi os comissários; historiadores de arquitectura, investigadores, arquitectos, antropólogos, etc. devem apresentar propostas de trabalho tendo em conta o tema e as dinâmicas actuais que se relacionam intimamente com a arquitectura. A Instituição deverá sancionar o projecto/proposta do/s curador/es que traga novos conceitos dentro do tema, uma mais valia e maior prestígio para os arquitectos e para o país tendo em conta os pressupostos referidos na alínea 1.

A meu ver, nunca deve ser a Instituição a definir os autores participantes e muito menos assumir curadorias.

 

 

Que oportunidades ou contributos pode uma representação nacional trazer à arquitectura portuguesa e ao país, em geral, e aos autores representados, em particular?

Proporcionar uma ampla divulgação da arquitetura portuguesa contemporânea e contribuir para divulgar aquilo que de melhor se pratica nesta disciplina, em Portugal.

Através das representações nacionais, a arquitectura portuguesa e os seus autores podem criar relações de trabalho com arquitectos residentes noutros países, dar a conhecer as suas preocupações e soluções no âmbito da arquitectura, criando uma aproximação junto dos especialistas e do público em geral. Proporcionam uma atenção especial sobre os projectos realizados, os conceitos que presidem à sua criação e a uma reflexão sobre os pressupostos da criação arquitectónica contribuindo para a sua teorização. ◊

 


 

João Santa–Rita

Presidente da Ordem dos Arquitectos
Arquitecto

Qual deve ser, na actualidade, o papel de uma representação nacional num evento internacional de arquitectura?

A arquitectura  portuguesa é hoje uma realidade diversa quer no número de autores, quer na sua expressão, pelo que, desde logo, qualquer representação da arquitectura portuguesa no exterior, deverá assegurar o carácter abrangente da mesma, reflectindo essa pluralidade. 

As representações poderão ter uma índole estritamente cultural, podendo no entanto assumir também um papel de difusão com objectivos mais dirigidos para hipóteses de internacionalização da arquitectura, nomeadamente para a captação de encomenda. Este aspecto é particularmente relevante tendo em conta que apesar do elevado reconhecimento internacional de alguns dos autores portugueses, a verdade é que também muitos outros têm vindo a ser premiados em muitas intervenções e concursos, tornando evidente a capacidade e a qualidade da arquitectura portuguesa no seu todo.

 

 

Que critérios devem ser tidos em conta na selecção dos comissários e curadores das representações nacionais? Qual deve ser o papel de uma instituição no processo de validação do projecto e dos autores representados?

Tendo em conta a diversidade de possibilidades de realização e de materialização de uma representação, bem como o elevado número de eventos desta natureza um pouco por todo o mundo, será fundamental que a seleção seja realizada com base numa consulta permitindo assim obter diversas leituras e propostas para um determinado evento. A selecção deverá privilegiar acima de tudo a proposta de guião e a sua capacidade de inovação, no modo de concretizar uma representação. 

O papel  das instituições deverá ser no sentido de criar as bases e orientações para uma consulta, bem como o seu enquadramento e acompanhamento, nomeação de júris, etc., de modo a assegurar o cumprimento dos diversos pressupostos. Por outro lado o papel das instituições é também fundamental no assegurar e facilitar os contactos com as redes de divulgação internacionais.

 

 

Que oportunidades ou contributos pode uma representação nacional trazer à arquitectura portuguesa e ao país, em geral, e aos autores representados, em particular?

Não será por acaso que qualquer representação nacional se reveste sempre de grande interesse por parte de curadores, comissários e autores representados. São ações que na maioria dos casos constituem eventos de grande visibilidade, e como tal permitindo aos autores representados aceder a uma audiência mais alargada, sendo que estes são certamente os primeiros e os mais directos beneficiados. 

As oportunidades traduzem-se sobretudo na divulgação cultural, convites para exposições, publicações, seminários, leccionar, etc., não podendo também deixar-se de salientar que muitas vezes tal poderá representar um modo de acesso à encomenda, quer a nível nacional, quer internacional através de convites para concursos ou para a realização de projectos. 

De um modo geral o carácter das representações nacionais em nada, ou apenas em muito pouco, contribui para oportunidades mais alargadas.

Algumas representações dada a sua natureza têm reforçado o reconhecimento do trabalho dos arquitectos portugueses, bem como o reconhecimento internacional da qualidade das intervenções, elevando assim o papel e o valor da cultura portuguesa. ◊

 


 

Carlos Moura–Carvalho

Ex–Director–Geral das Artes

Qual deve ser, na actualidade, o papel de uma representação nacional num evento internacional de arquitectura?

As exposições internacionais, sejam de arquitectura, artes ou design, são parte de um fenómeno contemporâneo que tem lugar num contexto económico e cultural dominado pelo marketing, imagens e representações. Mas, no contexto de uma exposição internacional de arquitectura, as mensagens que classificaremos de "sectoriais", ou "secundárias", dissolvem-se numa ordem superior de interesses em que predomina a sensibilidade cultural de um encontro para troca de experiências, de informação e cultura. Trata-se de mostrar, de dar a conhecer, de apresentar e representar, isto é, de comunicar. E é no plano da public awareness, hoje, que se joga o futuro desses acontecimentos únicos que são as exposições.

As grandes exposições internacionais, como Veneza, Milão, São Paulo ou Londres, constituem espaços de difusão de grande amplitude, que multiplicam as funções e canais de intermediação cultural, tanto interna como externa, ao mesmo tempo que lhes conferem uma maior visibilidade e notoriedade. Uma representação nacional pelo seu inegável carácter institucional deve assumir que as obras portuguesas constantes nesses eventos correspondem, em grande parte, aos melhores exemplares da arquitectura feita por autores portugueses. Sem esquecer a ousadia, a ruptura, a inovação.

 

 

Que critérios devem ser tidos em conta na selecção dos comissários e curadores das representações nacionais? Qual deve ser o papel de uma instituição no processo de validação do projecto e dos autores representados?

Considerando a delimitação temática cada vez maior das exposições internacionais, o primeiro critério terá de ser o da adequação e respeito pelo tema definido para a exposição. Em paralelo, o percurso e experiência do curador, e a sua visão da arquitetura, das artes e da cultura. E a sua capacidade de compromisso com o orçamento definido.

Ser curador de uma exposição internacional de arquitectura constitui uma oportunidade e uma responsabilidade: possibilita pôr em prática argumentos que venham a tornar-se consequentes para a arquitectura; trazendo actos ou factos que permitam o desenvolvimento interno de novas formas de pensar e de outras formas de olhar para as questões que emergem da prática do seu quotidiano.

Por isso também a integração disciplinar da cultura arquitectónica noutros campos de criação artística, como a pintura ou a escultura, é cada vez mais imprescindível.

Em Portugal, país com pouca massa crítica e escassos recursos, condicionado pela sua própria dimensão, o espaço para o surgimento de novas atitudes, de novas ideias ou de novas respostas é escasso. São raros os casos de autores nacionais cuja obra é reconhecida pela ruptura com os valores instituídos.

A escolha dos curadores deve, pois, ser particularmente cuidada, pensada pela entidade pública com responsabilidades na matéria e apresentada fundamentadamente à Tutela. Essa entidade – DGArtes – deve validar as opções apresentadas pelos curadores, trabalhando com eles em sintonia e estreita colaboração, criando condições temporais, financeiras e administrativas para uma eficaz representação nacional.

 

 

Que oportunidades ou contributos pode uma representação nacional trazer à arquitectura portuguesa e ao país, em geral, e aos autores representados, em particular?

Uma exposição internacional constitui sempre uma oportunidade. Oportunidade para os curadores, para os artistas, para o país. Oportunidade para reflectir, discutir, mostrar, reforçar imagens que num determinado momento se querem transmitir. Oportunidade para reforçar a dinâmica da nossa representação cultural e a forma como a arquitectura portuguesa é apresentada e exposta ao público internacional. Que deve ser aproveitada. Sem excessos. Mas com eficácia. E criatividade, procurando superar os constrangimentos de que acima falámos.

Apesar das inegáveis componentes de marketing, de exposição e algum exibicionismo que envolvem este tipo de eventos, pessoalmente entendo de extremo interesse a participação de Portugal nas principais exposições internacionais. Enquanto Diretor-Geral das Artes, as exposições internacionais de Veneza, São Paulo, Milão, Paris ou Londres, constituíram apostas decisivas assentes na transversalidade disciplinar (arquitectura e arte, design e ciência) e na cooperação institucional. A internacionalização da arquitectura, das artes e em geral da cultura portuguesa é um desafio demasiado exigente e oneroso para ser abordado de uma forma solitária, parcial, sectária. Uma frente cultural e criativa multidisciplinar partilha custos e riscos, fortalece a exposição, o prestígio e o reconhecimento internacional, reforça os contactos e vínculos no exterior, potência estratégias de comercialização e de marca e explora novos canais de distribuição capazes de serem aproveitados por criadores de menor dimensão.

Internacionalmente, a actuação da DGArtes deve alicerçar-se numa frente comum com outras entidades públicas e privadas, através de um conjunto variado de parcerias, desde o Camões Instituto da Cooperação e da Língua Portuguesa, às delegações da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, consulados, passando por fundações, associações e empresas. Com objectivos tão variados como: identificação de entidades e eventos de relevância internacional com enquadramento nas prioridades estratégicas definidas para a acção cultural externa; apoio no acolhimento e promoção das participações oficiais portuguesas no estrangeiro e das produções artísticas portuguesas em circulação internacional; colaboração nas comissões de apreciação de candidaturas dos procedimentos concursais e nas comissões de acompanhamento e avaliação dos projectos apoiados; concepção e produção conjunta de acções de promoção a realizar em território nacional, tendo como público-alvo entidades e agentes estrangeiros decisores; concepção e desenvolvimento conjunto de programas de formação técnico-artística, designadamente programas de estágios e de formação ou bolsas em parceria com instituições culturais estrangeiras.

Numa contemporaneidade marcada pela globalização, as estratégias de comunicação e divulgação têm de ser criativas e multiplataforma, pois a arquitectura assume um papel extremamente relevante, surpreendente, inesperado, constituindo um campo de exercício de liberdade, uma fronteira a ser explorada, a ser descoberta, a ser revelada, um canal para revelações novas. A divulgação tem de acompanhar esse poder. Essa componente é essencial para o sucesso das grandes exposições internacionais. ◊

 


 

Jorge Barreto Xavier

Ex–Secretário de Estado da Cultura
Ex–Director–Geral das Artes

Qual deve ser, na actualidade, o papel de uma representação nacional num evento internacional de arquitectura?

A expressão "representação nacional" e a expressão "evento internacional de arquitectura" são expressões vagas. Presumo que com a primeira se pretende, nesta pergunta, designar uma representação oficial, ou seja, reconhecida pelo Estado como representante do País. Presumo ainda que com a segunda expressão se pretenda referir presenças oficiais em eventos como a Bienal de Veneza ou a Bienal de São Paulo. É com base nestas presunções que elaboro a minha resposta.

O papel de uma representação nacional depende, a cada momento e na minha opinião, da articulação de diferentes elementos:

— o reconhecimento do "estado da arte", onde devem estar presentes critérios eminentemente objectivos;

— a validação de estratégias, ou seja, de movimentos de afirmação internacional que perdurem para lá dos eventos em si e que representem linhas de acção consensuais entre Estado e sociedade civil, além da rotatividade normal de governos em países democráticos;

— a afirmação de propósitos claros para cada representação nacional, em dado momento, que permita ao meio da arquitectura e ao público em geral escrutinar as opções tomadas;

Dito isto, considero que, conforme afirmei aquando da concretização do "Ano da Arquitectura", em 2013, é preciso passar do reconhecimento da arquitectura portuguesa no círculo internacional académico e da crítica especializada para uma validação nas sociedades europeias que permita desenvolver uma circulação efectiva dos nossos arquitectos das diferentes gerações e um aumento expressivo das encomendas aos arquitectos portugueses, superando uma lógica de "star system".

Não se trata da "banalização da arquitectura", trata-se de não a reduzir à "celebração do arquitecto".

 

Que critérios devem ser tidos em conta na selecção dos comissários e curadores das representações nacionais? Qual deve ser o papel de uma instituição no processo de validação do projecto e dos autores representados?

Creio, de alguma forma, ter respondido a essa questão na resposta anterior – é que para mim, os critérios são sempre de ordem geral e abstracta face ao interesse público e é a partir daí que se escolhe comissários e curadores. Estes, creio, nunca devem ser escolhidos por questões de gosto ou de afinidades electivas que relevam mais do particular que do interesse nacional.

No contexto contemporâneo, creio que a articulação do Estado com entidades especializadas para a maior solidez das opções tomadas é de recomendar. Assim, no caso vertente, a articulação com a Ordem dos Arquitectos, nomeadamente. Todavia, essa articulação não deve em momento algum tornar uma representação nacional neste domínio num mero gesto corporativo, o que seria reduzir a projecção internacional da arquitectura portuguesa à gestão dos interesses de uma classe.

 

Que oportunidades ou contributos pode uma representação nacional trazer à arquitectura portuguesa e ao país, em geral, e aos autores representados, em particular?

Como referi, estas representações devem conjugar o curto, o médio e o longo prazo. Acontecendo as representações no curto prazo, elas não devem ser vistas de forma episódica mas numa linha de tempo que toma o fio da história, consolida o percurso dos novos arquitectos à luz do fôlego de projecção dado pelas gerações mais velhas, mostra a arquitectura como um fenómeno total do qual o arquitecto é só uma parte – dissociar os territórios, as condições sócio-económicas, o contexto político e cultural, as correntes teóricas e comunicacionais e por aí fora – dissociar ou ignorar a complexidade inerente às opções a tomar, leva a exercícios superficiais, muitas vezes mascarados pela veladura do design e do acordo de uma certa crítica caseira – não é o suficiente para fazer uma boa representação, para servir a arquitectura, os arquitectos e o país. 

É possível numa representação cuidar destes vários aspectos. Primeiro como Director-Geral das Artes (entre 2008 e 2010) e depois como membro do Governo com a tutela da Cultura (entre 2012 e 2015) foi o que procurei fazer e, naturalmente, faz sentido expor os princípios que orientaram a minha acção e que considero continuam válidos. ◊

 


 

José Mateus

Arquitecto 
Presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa

Qual deve ser, na actualidade, o papel de uma representação nacional num evento internacional de arquitectura?

A ideia de Representação tem subjacente 2 aspectos diferentes e complementares. Por um lado, uma representação é uma imagem ou ideia de algo que, neste caso, é da arquitectura portuguesa. Mas representar também significa participar em nome de Portugal. Uma representação nacional deve ser sempre assegurada, afirmando com consistência e com uma exigência excepcional o valor da arquitectura do nosso país e o nosso papel na cena cultural mundial.

 

Que critérios devem ser tidos em conta na selecção dos comissários e curadores das representações nacionais? Qual deve ser o papel de uma instituição no processo de validação do projecto e dos autores representados?

A selecção do Comissário ou Curador, onde na base deve estar sempre a sua competência para esse cargo específico, deve ser feita em função de eventual tema da Bienal (ou outro evento) em que se vai participar. A instituição que convida o comissário ou curador deve definir limites orçamentais e princípios gerais de enquadramento, mas deve respeitar a autonomia necessária desse comissário ou curador. As escolhas de elementos da equipa curatorial ou de artistas e arquitectos convidados devem ser da iniciativa do curador geral, de acordo com o seu projecto, e a instituição deve, por princípio, respeitar essas escolhas. De resto, a instituição deve empenhar-se em analisar e debater todos os aspectos do projecto curatorial e acordar com o seu autor o amadurecimento e evolução desse projecto dentro desse espírito de respeito.

 

Que oportunidades ou contributos pode uma representação nacional trazer à arquitectura portuguesa e ao país, em geral, e aos autores representados, em particular?

A relevância  da  produção arquitectónica de um país mede-se em primeiro lugar através da qualidade das obras produzidas ou do pensamento manifestado através das mais variadas formas de reflexão, seja em publicações, teses, ensaios, etc.

Paralelamente, interessa colocar essa produção num contexto mundial, onde uma massa crítica muito mais alargada e exigente confirma o nível a que se situa. Tanto pelos benefícios de participar num espaço de debate internacional, em termos de avanço no conhecimento, como pelo reconhecimento que daí se pode obter – a arquitectura portuguesa – deve garantir-se que estamos sempre presentes.

A Bienal de Arquitectura e Veneza deste ano é uma prova concludente da competência dos arquitectos portugueses que estão presentes em grande número e com projectos de alto nível, por exemplo na exposição da Cordoaria [exposição central de obras seleccionadas pelo curador-geral Alejandro Aravena no Arsenale]. ◊

 


 

Ana Paula Laborinho

Presidente do Instituto Camões

Qual deve ser, na actualidade, o papel de uma representação nacional num evento internacional de arquitectura?

A Arquitectura é uma expressão cultural de grande significado, manifestação da identidade nacional e património cultural de um país.

É sabido que a arquitectura portuguesa tem alcançado notoriedade por via das obras de autores portugueses que granjearam grande reconhecimento internacional, ditando tendências e sendo agraciados com prémios de relevância internacional.

A presença em eventos internacionais de arquitectura configura uma estratégia e uma oportunidade para consolidar esse reconhecimento, promover a  internacionalização da arquitectura e dos arquitectos portugueses, contribuir para o debate e o conhecimento desta disciplina. As participações em eventos desta natureza são, também, o corolário da vitalidade e diversidade da arquitectura portuguesa.

 

Que critérios devem ser tidos em conta na selecção dos comissários e curadores das representações nacionais? Qual deve ser o papel de uma instituição no processo de validação do projecto e dos autores representados?

A arquitetura caracteriza-se por ser transdisciplinar, cruzando – entre outras – estética, funcionalidade, tecnologia e também ética.

No meu entender, é importante que as instituições salvaguardem as constituição de equipas de comissários e curadores que revelem capacidade de desenvolvimento de abordagens transdisciplinares.

As instituições devem ter um papel importante na fase de selecção e designação dos responsáveis pela concepção dos projectos, dedicando especial atenção aos seus curricula, preferencialmente multifacetados, experiência internacional e trabalho desenvolvidos na área da curadoria e gestão de instituições culturais. As instituições têm, naturalmente, um papel a desempenhar no que diz respeito à definição e gestão dos recursos públicos afectos aos projectos.

 

Que oportunidades ou contributos pode uma representação nacional trazer à arquitectura portuguesa e ao país, em geral, e aos autores representados, em particular?

A representação nacional nestes contextos contribui para a projecção internacional do património arquitectónico português. Paralelamente, potencia a mobilidade dos arquitectos e das suas obras, a aproximação dos arquitectos portugueses aos seus congéneres de todo o mundo, facilitando a interacção e a criação de redes próprias com outros arquitectos e com outros mercados.

As representações nacionais em eventos desta natureza constituem, por isso, momentos singulares de partilha entre criadores de diversos países e tendências, possibilitando o enriquecimento mútuo e a partilha de modos de vida, de formas de habitar o espaço, bem como dos relacionamento que se estabelecem entre vida pública e vida privada, em suma, das vivências culturais de cada povo.

As instituições devem estar empenhadas na promoção destas participações pela sua vertente de promoção da criatividade e inovação, de valorização dos arquitectos nacionais e consequente aumento da sua competitividade a nível internacional, contribuindo para o desenvolvimento económico e a preservação da identidade cultural portuguesa. ◊