EDITORIAL

No rescaldo Outonal

Por Paula Melâneo e Inês Moreira

 

Neste número 254 do J—A, divergindo do anterior, decidimos não ter um tema específico e focar a edição no que de relevante aconteceu nos últimos meses.

 

Após a publicação do J—A #253, no final de Julho de 2016, um aparatoso incêndio deflagrou nos limites da cidade do Funchal no dia 9 de Agosto. Na sua sequência convocámos Rui Campos Matos, Presidente da Delegação da Madeira da OASRS, para nos dar a sua perspectiva sobre o incêndio, tendo-nos relatado a experiência pessoal de vivenciar o momento (ver crónica no fórum). Em Setembro, o fotógrafo Nuno Cera esteve na Madeira e trouxe-nos um reflexo desse território enegrecido, um testemunho no terreno sobre os problemas urbanísticos que assolam as zonas mais periféricas do Funchal e da urgência da sua resolução. Ainda sobre a Madeira, pedimos ao arquitecto Luís Vilhena que partilhasse uma observação sobre esse território desordenado e as suas possíveis consequências catastróficas.

 

Acompanhando as notícias, com satisfação sabemos que a Câmara Municipal do Funchal deu início a diligências no sentido de accionar a avaliação dessas falhas e propor novas soluções de planeamento e reabilitação da cidade, seguindo o exemplo do que foi feito na zona do Chiado, em Lisboa, depois do incêndio, segundo Paulo Cafôfo, o Presidente da Câmara do Funchal (ver notícia DN e OASRS). Anunciou-se a formalização do Gabinete da Cidade, uma organização de “participação mista e um limite temporal” sob direcção de Paulo David e João Favila Menezes, com consultoria científica de Gonçalo Byrne e participação de João Gomes da Silva, integrando também técnicos camarários. Fomos saber como evoluem os trabalhos deste Gabinete, mas, para já, foi-nos informado que está ainda em fase embrionária, a constituir a equipa. Estamos no fim do Outono e chove, ficaremos atentos a esta situação.

 

 

Conferência de Imprensa · 4ª Trienal de Arquitectura de Lisboa
©Paula Melâneo
Conferência de Imprensa · 4ª Trienal de Arquitectura de Lisboa
©Paula Melâneo

 

Pelo continente, a entrada no Outono foi mais festiva. Acompanhámos a abertura da 4ª Trienal de Arquitectura de Lisboa, com um vídeo sobre os animados momentos da inauguração, explorámos o tema desta edição – A Forma da Forma –, numa vertente mais transversal e crítica e noutra mais centrada no conceito de Forma e da sua perenidade. Encerrando o ano, fizémos também uma reflexão sobre os grandes eventos culturais de 2016, olhando para um contexto de eventos internacionais similares e contemporâneos, como a Trienal de Arquitectura de Oslo ou a Bienal de Veneza, entre outros.

 

 

Conferência de Imprensa · MAAT
©Paula Melâneo
Conferência de Imprensa · MAAT
©Paula Melâneo

 

A abertura do novo edifício do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, o MAAT, obra do atelier AL_A, da inglesa Amanda Levete, foi também assunto destes últimos tempos. A comunicação social noticiou um impressionante número de mais de 15 mil pessoas que visitaram a obra no seu primeiro dia de abertura ao público. Defendido como um museu necessário, tem ainda muito para mostrar, não só sobre a sua eficiência enquanto edifício expositivo, mas também na sua estratégia cultural e de programação, uma vez que apenas alcançará a sua plenitude no próximo ano, com a sua finalização e abertura ao público de todos os espaços, e também com a abertura da segunda parte do ciclo programático Utopia/Distopia. 

 

Analisamos esta obra singular no panorama lisboeta – um alvo de controvérsias – partindo do seu projecto e focando a concepção da sua estrutura através da experiência do engenheiro Edgar Brito, que integrou a equipa da Afaconsult e de Rui Furtado nesta empreitada. Registamos a nossa visita ao edifício e uma conversa com a autora Amanda Levete e o seu associado Maximiliano Arrocet. Nuno Grande, arquitecto e crítico, fez-nos algumas observações sobre a sua lógica de equipamento para cidade, enquanto novo espaço público e espaço cultural, questionando a sua capacidade de permanência.

 

Num Outono particularmente quente, o país experimenta a intensa actividade cultural de um grande evento internacional e a abertura de um edifício ícone em Lisboa, como novo hot-spot na fervilhante paisagem turística. Mas não podemos esquecer as perdas dos incêndios da Madeira, ou dos passadiços do Paiva, ou mesmo antever que no Inverno as enxurradas e aluviões, vão devastando zonas turísticas ou outras menos “instagramáveis”, sejam nas Regiões Autónomas, no Algarve, ou num local do interior do país, mais pobre e menos mediático. ◊

 

 

NOTA: A redacção do Jornal Arquitectos está em “desacordo ortográfico”.