Os Pavilhões do Parque
Caldas da Rainha
João M. Pereira
Arquitecto: Rodrigo Maria Berquó
Ano: 1893
Local: Parque D. Carlos I, Caldas da Rainha
Os "Pavilhões do Parque” são, para a minha geração, uma referência de fascínio, mistério e aventura das Caldas dos idos “de 70”. À época não compreendíamos a razão de ser ou existir daquele conjunto imponente, austero, quase ameaçador, um gigante adormecido, mas povoado de sombras, ruídos, perigos imaginados. Irresistível, portanto.
Mas, na verdade, ali se passou quase tudo. Desde acontecimentos desportivos, a sede de colectividades e associações culturais, à primeira Secção Liceal da cidade, à Biblioteca pública, até ao início da sua degradação que, até aos dias de hoje, não mais foi controlada. Por ali brincámos, estudámos, treinámos, competimos, conspirámos, namorámos.
E é assim, com nostalgia magoada que hoje, olhamos para o estado de abandono e degradação a que chegaram os Pavilhões. Esperamos agora nós, os Caldenses, que a transferência para gestão Municipal, recentemente concretizada, tragam uma nova vida a esta património singular e irreproduzível.
O meu modesto contributo para esta causa, consistiu numa exposição de fotografia (aqui se inclui uma selecção) sobre os Pavilhões, realizada em Março de 2016, nas Caldas da Rainha. O Professor João Bonifácio Serra teve a amabilidade de escrever o texto do catálogo, do qual, adiante, reproduzo um excerto:
"Conhecemo-los em grandes cidades do mundo, como Paris, Londres ou Sidney: edifícios únicos, que ganharam o estatuto de símbolos. Alguns, como a Ópera de Sidney, constituíram verdadeiros desastres urbanísticos, esgotando sucessivos orçamentos. Outros, como a Torre Eiffel, foram apresentados inicialmente como construções efémeras, dividindo opiniões e gerando ondas de críticas severas. A identidade e popularidade da Torre de Londres está associada ao cenário de horrores com que o romance oitocentista a figurou.
Nas Caldas da Rainha, se há edifício que pode ostentar o título e a representatividade de ícone da cidade é o conjunto formado pelos Pavilhões do Parque. De certo modo, também ele podia ser classificado como um desastre urbanístico. Projectado como Hospital em Março de 1893, veria a sua conclusão interrompida com a morte do seu arquitecto, Rodrigo Maria Berquó, em 1896. E jamais preencheria as funções que o seu criador lhe definira.
E, no entanto, se há edifício polissémico na cidade é este, albergando inúmeras instituições, centrais e locais, associativas e particulares, ao longo dos seus cento e vinte e três anos de existência. Dispensou instalações a militares e a polícias, recebeu refugiados boers e prisioneiros da Grande Guerra, acolheu livros, estudantes e professores – foi biblioteca, liceu, escola politécnica –, foi palco de teatro, dança e música, academia, galeria de artes plásticas, local de treinos e torneios desportivos. Um número infindável de actividades, distribuídas por um leque muito diversificado de áreas, ali se instalou, realizou, criou. Gerações e gerações de caldenses frequentaram os Pavilhões do Parque, neles trabalharam, cantaram, ensinaram e aprenderam, cresceram, fundaram relações.” (João B. Serra, Historiador)
A bibliografia disponível é, contudo, vasta. Infelizmente, e até agora, focada na centenária incapacidade de dar bom uso a este conjunto arquitectónico.
"Apesar da opulência e magnitude das obras de D. Rodrigo Berquó, o Hospital D. Carlos I acabou por “morrer” ainda antes de estar terminado. Considerado demasiado extravagante economicamente, e perante as dívidas, o sucedâneo na administração do Hospital Termal decide empregar os últimos esforços completando as obras no estabelecimento termal, mergulhando os pavilhões numa indecisão construtiva e utilitária, que dura até aos dias de hoje.
Que fazer com este edifício cujo erário público patrocinou, marcando a sua presença, suscitando aplausos e apupos, e que transformou indelevelmente a estrutura urbana e paisagística da vila?
A história dos Pavilhões do Parque seguiu um rumo muito diferente daquele que o fez erguer do pó e cuja visão “berquoliana” projectara, vivendo o seu primeiro século de vida em permanentes indecisões e ocupações de “desenrasque”, nunca sendo suficientemente adaptável às várias funções que lhe impingiram, pois a sua estrutura foi cogitada ao pormenor para o seu propósito inicial e não como local de transições e de ocupações provisórias, até algo melhor aparecer.
Estando as obras paradas desde 1896, o edifício além de incompleto na sua estrutura, ainda vai sofrer depauperações na sua dignidade patrimonial, vivendo num limbo patrimonial entre o espantoso e ícone do Parque e das o Caldas, e “mamarracho” sem utilidade, velho e decrépito." (Cláudia Feio, 2010)
Esperemos que em breve se possa recentrar nos projectos de requalificação dos Pavilhões do Parque.
Bibliografia seleccionada
“O impulso das águas: contributo para a identidade das Caldas da Rainha”, André Filipe da Cruz Barros, Mestrado integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes, Universidade Lusíada de Lisboa, 2014
“Os Pavilhões do Parque e a problemática da sua conservação”, Claúdia Feio, 2010
“Rodrigo Berquó Cantagalo, 1839-1896: Arquitecto das Termas”, Jorge Mangorrinha, 1996
“Percurso de cidade com termas. Evolução urbana das Caldas da Rainha da fundação aos finais do sec XIX”, João B. Serra, 2005